Por André Coelho, Marcos Paulo, Adair Aguiar e Vinícius Miranda
O campus Maracanã da Universidade do Estado do Rio de Janeiro é o maior ponto de concentração de estudantes do estado; são quase 15 mil alunos freqüentando diariamente este gigantesco prédio de 12 andares. Para os que passam várias horas na Universidade trocar uma refeição de qualidade por uma alternativa mais rápida e barata, nos famosos “podrões” e “gordurosos” da Uerj, é quase uma regra. No entanto, tal prática pode ser perigosa para a saúde dos estudantes, tanto pela falta de qualidade da alimentação quanto pelas precárias condições de higiene das cantinas.
O grande movimento nas diversas cantinas da Uerj mostra que, de fato, os estudantes sentem fome quando estão na universidade. “Na maioria dos dias eu chego às 14h e só saio às 22h; às vezes não dá tempo nem de almoçar em casa e tenho que fazer duas refeições. Geralmente como um hambúrguer, algo preparado na hora, ou só um salgado quando a grana está mais curta” – conta João Gabriel Torgano, estudante de Engenharia.
O ideal, segundo especialistas, é uma alimentação mais diversificada, rica em nutrientes, como um bom prato de comida, por exemplo. O problema é que a falta de tempo e dinheiro praticamente obriga os estudantes a correr para comer um salgado quando a fome aperta. Para Márcia Madeira, professora do instituto de nutrição da UERJ, é preciso ter uma alimentação saudável dentro e fora de casa, sem exagerar nos salgados, hambúrgueres e outros, além de evitar trocar uma refeição completa por algum destes “lanchinhos”. “Outro problema é o tempo que a pessoa demora para comer; estudos mostram que fora de casa as pessoas levam, em média, de três a dez minutos para comer, o que pode causar sérios problemas no aparelho digestivo como gastrite e úlcera” - explica.
A falta de higiene dos estabelecimentos também é um fator preocupante. E não é preciso ser um fiscal para constatar o problema, como conta a estudante Flavia Martins: “eu já cansei de ver baratinhas andando pelas cantinas da Uerj. Como não tem opção, o jeito é fingir que não viu e comer o salgado assim mesmo.” Uma pesquisa realizada recentemente encontrou condições inadequadas de higiene em praticamente todos os estabelecimentos da Uerj; algumas situações absurdas como carnes sendo descongeladas em baldes no chão e ausência de itens básicos de higiene como pias para os funcionários lavarem as mãos (acesse www.agenc.uerj.br e veja a matéria de Alexandra Barbosa sobre a pesquisa).
Márcia Madeira alerta para o perigo da contaminação dos alimentos: “Muitas vezes esses locais não possuem condições apropriadas de estocagem e preparo da comida, tornando grande a probabilidade de contaminação microbiológica, o que pode causar problemas como diarréias, desidratação, dores de barriga, entre outros”. Segundo a professora, as altas temperaturas e a umidade do verão são potencializadoras do risco de contaminação e desenvolvimento de bactérias e outros organismos nos alimentos mal estocados.
Esse problema poderia ser consideravelmente reduzido se a Uerj possuísse o que a maioria das universidades públicas do País têm: o Restaurante Universitário, com refeições de qualidade por um baixo custo. No projeto original do prédio da Uerj está prevista uma área para a construção do chamado “Bandejão”, mas até hoje ele não saiu do papel. No ano de 2008 foi liberada pelo governo uma verba exclusiva para a construção do bandejão, que ainda não foi utilizada. Em setembro do ano passado os estudantes ocuparam a reitoria e saíram de lá com a garantia de que teriam o restaurante já no ano de 2009.
“O Restaurante Universitário é uma estrutura de assistência estudantil indispensável na maioria das universidades públicas do país. Na Uerj, que é uma das universidades com o perfil mais popular, os ainda não temos o Bandejão, o que é um absurdo.” – protesta Rafael Tristão, do Diretório Central dos Estudantes da Uerj. “Com a ocupação da reitoria o processo andou, agora só falta a ultima parte, que vai escolher a empresa que vai fazer a obra. Nós temos uma reunião marcada com a Administração Central para o dia 11 de fevereiro onde vamos discutir as questões finais, como o preço das refeições”- conta Rafael.
A parte final da licitação está marcada para o dia 16 de fevereiro, quando será escolhida a empresa que vai gerir o espaço. Segundo a Administração Central, a tendência é que a refeição seja gratuita para os alunos cotistas, e custe 2 reais aos demais estudantes, as obras devem demorar cerca de seis meses. Ao que parece, finalmente os alunos da Uerj terão uma opção saudável e barata na hora que a fome apertar.
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Há 6 anos